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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Os segredos da canção 'The Refugee'

Steve Lillywhite tinha uma regra de não fazer mais que dois álbuns com cada banda ou artista. Era hora do U2, também, renovar alianças e aproveitar a oportunidade de remodelar seu som. Eles sabiam o que queriam: mais pesado, mais urbano, mais rock ‘n’ roll do que havia sido em 'October'. Entre os considerados, havia Jimmi Destri, então do Blondie, Sandy Pearlman, que havia trabalhado com Blue Oyster Cult e The Clash, Rhet Davies do Roxy Music, e Jimmy Iovine, que tinha telefonado repetidamente, insistindo que queria produzir a banda.
Ao longo do caminho eles tinham considerado a possibilidade de trabalhar com um produtor irlandês. Bill Whelan já tinha formado uma aliança com o empresário da banda, Paul McGuinness, e eles fizeram demo de uma música, pelo menos, com ele. A música se transformou para integrar 'War'. “Eu acho que quando Bono foi para a América tornou-se mais politizado”, um amigo sugere. “Ele estava saindo com cubanos em São Francisco. Na América, os negros, os italianos e outros imigrantes tinham um amour pelos irlandeses. Bono sempre tinha esse tipo de reação, então ele começou a ter interesse em saber o que os irlandeses e os negros e os caribenhos tinham em comum. Eu acho que é de onde ‘The Refugee’ estava vindo”.
Era isso e muito mais além. O cineasta irlandês Bob Quinn vinha explorando as raízes da cultura Celta. Em um influente documentário, a trilogia Atlantean, ele avançou na teoria de que os Celtas tinham vindo para a Irlanda do Egito e Norte da África, trazendo sua música e sua arte com eles. Semelhanças foram detectadas entre as melodias tradicionais irlandesas e dos povos do Oriente Médio e música étnica. E na mesma veia, historiadores de arte estavam começando a identificar evidentes conexões entre Coptic Art e as intrincadas e elaboradas obras de arte feitas à mão por monges irlandeses em manuscritos como o Livro de Kells. Aquele tipo de descoberta e o debate que elas inspiravam era muito importante em um país como a Irlanda, cuja cultura tinha sido rígida e fechada nos anos 50, mais anos desde que a independência tinha sido declarada em 1921. Entre a geração jovem dos pós 60 em particular. Houve uma crescente conscientização da necessidade de olhar para fora e aprender sobre outras culturas e outras sociedades. Foi agora dado um novo impulso pelo reconhecimento de que nossas próprias raízes e origens eram muito mais complexas, e muito mais interessantes do que nós tradicionalmente éramos levados a acreditar. Bono viu a trilogia Atlantean e mais tarde encontrou Bob Quinn. Era inevitável que a curiosidade que tinha despertada,dessa forma, seria encontrar uma saída em uma canção.
“Havia uma paixão naquela época, que a música irlandesa tinha que ser re-inventada ou re-encarnada. Em torno da mesma época, eu estava tentando entrar em contato com John Lydon, para ver se eu poderia levá-lo para gravar com The Chieftains. Eu tinha essa idéia que a voz dele soava como gaita de foles e eu achava que eles se dariam bem juntos. Então nós encontramos Steve Wickham, que veio e tocou em ‘Sunday Bloody Sunday’. Eu tinha conversado com Steve, durante muitas noites, sobre como a música irlandesa poderia ser re-apropriada, porque estava terrivelmente deprimente naquele momento. Aquilo tornou-se um projeto. Ele saiu com isso em mente e se juntou a InTua Nua. [Ele depois também se juntou com The Waterboys]. Assim, muita coisa boa veio de tudo aquilo”.
The Troublefunk mencionado em ‘Seconds’ não era a única razão para suspeitar que alguém vinha fazendo algumas audições sérias para música negra. Quando 'War' estava sendo montado, Steve Lillywhite, que tinha concordado em se envolver mais uma vez, quando tudo mais tinha falhado, tomou a faixa de Bill Whelan e colou uns toques finais nela. Larry Mullen batendo tambores tribais foram mixados direita a frente e a banda devidamente engajada em algum canto primitivo. O barulho era impressionante o suficiente: ela apenas não soa inteiramente como se os U2 estivessem vestindo suas próprias roupas, tocando seus próprios riffs, usando suas próprias vozes.
“Eu não tinha mais ouvido essa música por 10 anos”, Bono confessa, “mas eu acho que ela está provavelmente na tecla errada e tentando ser emocionante sem puxá-la muito.” Curiosamente, Bill Whelan, que foi creditado como produtor da faixa, encontrou seu próprio ângulo no tema mais tarde em Riverdance. Se revigorando a música irlandesa, e em particular a dança irlandesa, era o objetivo, então Whelan conseguiu isso de forma espetacular, com um sucesso musical que novamente explora as conexões entre irlandeses, americanos e - numa menor extensão - música africana. Ao fazê-lo juntamente com o show da produtora Moya Doherty, Whelan conseguiu re-introdução de uma erótica, sexual dimensão para uma cultura da dança étnica que havia se tornado estéril e anti-séptica.

Agradecimento: Rosa - U2 Mofo
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